saga

Cara Júlia,

Obrigada por responder.
Meu nome é Uliana, sou a proponente e idealizadora do projeto TucumArte, uma trama amazônica.
Foi com tristeza que li seu email “Natura apoios”, de 11.03.09. Enviamos o projeto aprovado pela Lei Rouanet ao programa de patrocínios da NATURA porque acreditamos que o tema Desenvolvimento Sustentável passa necessariamente por atividades ou iniciativas que respeitem regras de manejo social e ambiental, como é o trabalho do TucumArte, realizado pelo grupo de artesãs da comunidade cabocla de Urucureá no oeste do Pará, 850 km distante de Belém.

Alguns dos objetivos desse projeto são levar ao conhecimento da população brasileira e estrangeira uma manifestação legítima, cultural e geograficamente distante da realidade do centro-sul do país, promovendo o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana e despertar nas comunidades da Amazônia o sentimento de pertencimento a uma herança cultural rica, fazendo com que outras manifestações culturais sejam resgatadas, inventariadas e afinal protegidas. Queremos, simplesmente, registrar um exemplo vitorioso de integração do homem, sua cultura e o ambiente que o rodeia. Queremos, também, filmar o que amamos fazendo nossas vidas melhores e ao mesmo tempo contribuindo para a vida num mundo melhor.

Projetos aprovados por leis de incentivo em busca de patrocínio dependem de decisões de companias que querem ver seu nome ligado a propostas, como disse em seu texto, alinhadas “às opções estratégicas e às crenças que orientam o seu comportamento empresarial”. Infelizmente soube pelo seu email que nosso projeto não está alinhado ao foco institucional da NATURA neste ano (temas Desenvolvimento Sustentável ou Empreendedorismo Social).

Escrevo este email e publico o histórico do nosso contato no link http://blog.nonanuvem.com.br/, bem como com o trailer do documentário. Penso que assim contribuo não apenas para divulgar meu projeto, ou como forma de convencer a NATURA a patrociná-lo, mas também para enriquecer e aquecer as conversas e a dinâmica de captação de recursos para projetos culturais no Brasil.

Atenciosamente,

Uliana

uliana duarte
nonanuvem filmes
www.nonanuvem.com.br

Cara Fabiana,

Recebemos sua proposta de patrocínio do projeto “TucumArte”, encaminhada ao Núcleo de Apoios & Patrocínios da Natura, que visa a criação de um curta-metragem sobre o trabalho das mulheres da região amozônica.

Antes de posicioná-la sobre a análise, gostaríamos de contextualizar que a Natura possui diretrizes para investimentos em projetos institucionais, a fim de alinhá-los às opções estratégicas e às crenças que orientam o seu comportamento empresarial.

Concentramos nossos esforços em iniciativas voltadas para os seguintes temas:
1) Desenvolvimento sustentável;
2) Cultura, com foco em música;
3) Moda.

Os investimentos realizados na área de Desenvolvimento Sustentável são direcionados para patrocínios a projetos com foco em áreas verdes urbanas, prioritariamente Jardins Botânicos; e em empreendedorismo social. Nesse contexto, seu projeto infelizmente não está alinhado ao nosso foco institucional.

Em breve, publicaremos em nosso site mais informações sobre as diretrizes, bem como sobre os projetos apoiados.

Estamos à disposição para qualquer esclarecimento necessário.

Agradecemos o interesse em ter a Natura como parceira e desejamos sucesso à iniciativa.

Atenciosamente,

Julia Vidigal
Apoios e Patrocínios
Natura Cosméticos

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o processo

já que “o processo é lento” e enquanto os meandros da política cultural, a dita crise mundial e o carnaval nos adiam um par de projetos de documentários anteriormente sonhados, escritos e inscritos, inspirados pela música que faz dançar e pensar, e pelo trabalho de artistas e produtores culturais de goyania e do mundo, fizemos um clipe pra rodar durante o show do bnegão e os seletores de frequência no projeto 5ativa


nonanuvem filmes mistura bnegão e outros em clipe from nonanuvemfilmes on Vimeo.

ao manusear arquivos, selecionar fitas, rever imagens, revisitei histórias e lugares na memória…
comprometida apenas com o meu coração, buscando costurar tudo numa narrativa, senti, na semana passada, e escrevendo sobre isso agora, constatei, mais uma vez (e como se fosse a primeira), que meu presente está irremediavelmente ligado ao meu passado. o presente misturado… e assim o spray de um, o microfone do outro, minha câmera, a da fabiana, o VDMX do renato, ny, sp e goyania, o 5 pointz e o martim cererê, tim maia, james brown, bnegão e os seletores estariam na mesma frequência, rumo à nona nuvem

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impressões cotidianas

Imagine um documentário que recebe a colaboração de trinta diretores simultaneamente, em tempo real e aberto ao público. É mais ou menos isso que já vem acontecendo em São Paulo e outras grandes cidades do mundo. No caso da capital paulista, vários motoboys receberam celulares com câmera para mostrarem suas impressões cotidianas: durante o dia eles fotografam e filmam acontecimentos de quase todas as naturezas e fazem o upload na internet pelo próprio celular.

Esta iniciativa é apenas um exemplo do emprego de uma câmera de bolso que lhe permita filmar ou fotografar a qualquer momento. Já existem videoblogs e festivas de filmes feitos apenas com essas camerazinhas. E o que é mais interessante é que devido principalmente às restrições dos aparelhos em termos de formatos, cores, qualidade e tamanho, esses vídeos já nascem com estética própria e uma linguagem diferente do cinema.

Em dezembro de 2008 o Coletivo Centopéia promoveu o seminário Câmera Cotidiana, com oficinas, debates e apresentação de trabalhos feitos com essas novas possibilidades, ou devo dizer mídias? Achei interessante o tema e também a oficina da qual participei. E apesar de ter aprovado o fato dos vídeos terem sua própria identidade, me parece que já foram criadas regras demais para a produção.
camera cotidiana

Entres as características desses vídeos estão, por exemplo, os planos mais fechados. Partindo do pressuposto de que a resolução do vídeo é baixa, quanto mais elementos você tentar colocar no enquadramento, mais perderá em qualidade. Também há limitação de cores, o que requer um aumento no contraste. E a característica mais marcante é que eles geralmente são curtos. O festival arte.mov aceita vídeos que tenham entre vinte segundos e três minutos de duração, que em se tratando de celulares já é considerado um longa-metragem.

Tudo isso já é realidade e de fato é bem interessante, porque a cada evolução tecnológica aumentam as possibilidades de produção audiovisual. Porém, como sempre, surgem algumas dúvidas e considerações sobre as câmeras de bolso prontas para agir em qualquer hora.

A estética e os formatos comuns desses filmes realizados com celular surgiram principalmente pelas limitações técnicas do equipamento. Os próprios vídeos em loop infinito são tão rápidos que é necessário vê-los várias vezes para entender todas as suas imagens. Mas o que irá acontecer com este estilo quando o celular, esse aparelho que cada vez engloba mais funções como um canivete suíço do século XXI, for capaz de produzir imagens em alta definição?

Talvez seus realizadores tenham que se adequar mais à linguagem cinematográfica, ou o cinema a eles. O fato é que isso pode permitir mais uma grande mudança no cinema, tanto na forma de se pensar, quanto na forma de se produzir. O cinema feito por celulares até hoje, se parece com o primeiro cinema de atrações feito no final do século XIX e início do século XX, poucos cenários, planos contínuos, acontecimentos casuais, limitações técnicas, mas é difícil pensar que sua evolução seguirá o mesmo curso. Na verdade é impossível prever o resultado dessas mudanças que já estão em andamento.

O que é possível prever é que a “síndrome de Big Brother” vai crescer cada vez mais. De repente cada pessoa tem a possibilidade de ser um “vigilante”, tudo pode estar sendo gravado, mesmo naquela conversa de fila de banheiro. Mas como toda mudança traz boas e más notícias, esperemos que seja possível usufruir com inteligência estas novas possibilidades. Certo é que todos terão de se acostumar com a exposição que poderão sofrer a qualquer momento e em qualquer lugar.

Renato Prado
renato@nonanuvem.com.br

assista ao vídeo “o assalto” realizado por Renato, Nancy, Aline e Coelho durante o seminário
camera cotidiana

outras palavras:
nacho durán – videoblog

fernando velázquez – blogart

1 comentário

os olhos d’água de nossa senhora do rosário

29.12.08, 22 horas, nonanuvem filmes + estúdio fabíola morais, jardim américa, goyania

projeção do documentário

Os Olhos d’Água de Nossa Senhora do Rosário
45min, 2008, cor, DV, Brasil

princesas

“O que nós falamos, nós falamos pela voz de Nossa Senhora do Rosário. Nós estamos aqui pela Nossa Senhora do Rosário”.
Damião, Capitão do Congo Velho do Rosário.

no início senti um estranhamento, o áudio dos batimentos do coração me incomodou. 15 minutos depois eu começava a me envolver, me entregando à beleza do sincretismo. mais 15 minutos e eu me lembrava de como a diversidade nos descortina tantos mundos desse mundo, como adoro ser brasileira…
as lindas imagens e sons daquela congada falavam da rica mistura de que somos feitos: tambor, reza, feijoada, cetim azul e branco, quase-samba sou eu também… e aí bate forte, sim.
– parabéns pelo sensível trabalho Pedro, e obrigada por ter vindo mostrá-lo e conversar com a gente – (((aprendi)))

os olhos d agua de nossa senhora

Direção e montagem: Pedro de Castro Guimarães
Fotografia: Ana Carvalho e Pedro Guimarães
Som direto: Leonardo Rosse e Pedro Duraes
Finalização de som: Studio Loop
Produção e pesquisa: Laboratório de Etnomusicologia da UFMG sob a coordenação de Rosângela Tugny.
Contato: pedrodecastro.gui@gmail.com, rtugny@gmail.com


outros lugares:

laboratório de etnomusicologia da ufmg

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entre EUA, Brasil e um passaporte húngaro

Fabiana Assis, a mais nova aquisição da nonanuvem, voltou há pouco de um período de 3 anos em Nova Iorque, onde, entre outras ondas, estagiou na produtora de documentários VIVA! Pictures.
Na bagagem trouxe de presente o dvd “grandma has a video camera”, último doc de Tânia Cypriano, que foi exibido recentemente no Rio dentro da programação do Festival Internacional do Filme Etnográfico.
Um dos meus lugares favoritos no mundo virtual e fonte obrigatória pra quem trabalha, estuda ou ama documentários, o docblog, do Carlos Alberto Mattos publicou texto sobre “grandma”, em 17.11.2008.grandma
Enquanto Fabiana se preparava pro retorno ao Brasil conheceu na ViVA! Pictures outra cineastra brasileira, por sua vez recém-chegada a Nova Iorque, Sandra Kogut, que acabou também por presenteá-la com seu “um passaporte húngaro”. A primeira referência que tive desse doc foi pelo “O Cinema do Real”, coletânea organizada por Amir Labaki e Maria Dora Mourão, e desde então me deparo com o título nas minhas leituras, mas nunca tinha podido assisti-lo.
Mas enfim…. a novidade é: se a crítica do docblog sobre “grandma”, e se algo do monte que já foi escrito sobre “um passaporte…” despertarem desejo de assisti-los, envie email contato@nonanuvem.com.br marcando uma hora no nosso espaço. Tenho certeza de que são 2 bons pratos pra quem, como eu, vive com fome de filme “que só passa em festival”. Não estou certa sobre um embrião cineclubista por aqui… gostaria de unir forças… vamos ver o que acontece.

outras palavras:

http://www.newuniversity.org/main/article?slug=grandmas_homemade_videos_2

http://republicapureza.com.br/passaporte/entrevista.htm

1 comentário

a (minha) fala do outro

Começo de 2006. Muita coisa acontecendo: mudança de “estado civil”, de casa, de país, deadline pra entrega do meu primeiro vídeo… urgência na vida.
Depois de gravar durante 11 dias com ajuda apenas do melhor amigo do mundo, voltei pra Goiânia em busca de um técnico em final cut pra me ajudar a cortar o documentário muitchareia. Até hoje acredito que consegui o melhor: achei o Isaac, mas essa ainda era uma viagem solitária.

Havia mais de 15 horas de conversa. Transcrevi tudo. Nada como editar no papel. Lendo, relendo… Cortando, voltando….comecei a perceber a possibilidade de seguir rumos diversos segundo o que os entrevistados me disseram. E havia rumos bem distintos, muitos filmes ali dentro. Fazendo essa escolhas comecei a me ver. É nessa hora, acredito, mais do que na gravação, que a gente fala sobre o que não consegue. E é pactual, um vai dizendo pela boca do outro. É prazeroso mas sofrido. Cortando uma palavra ganha-se um sentido mas perde-se outro. Vai-se desenhando uma paisagem….

Sempre penso no José Vicente, assunto do post anterior, que há pouco ficou viúvo. Ele que da vida queria apenas uma aliança, pois se casara com aliança emprestada. Eu chorei enquanto gravava… ele nunca viu. Eu que da vida queria apenas aquele amor.
Penso também no Dom Luís, que mexeu muito comigo. Há um ano eu assistia no meio da rua ao jornal nacional dando notícia, durante sua segunda greve de fome, de que tinha ido pra UTI após o supremo tribunal liberar as obras de transposição. Eu o imaginava uma outra pessoa. Fiz dele o retrato que consegui entender. http://www.vimeo.com/2225085
Considero a possibilidade de voltar lá e entrevistá-lo de novo. Fico me perguntando o que ele achou do meu trabalho… se um dia eu souber juro que conto a verdade.

“Filmar o outro é confrontar a minha mise-en-scène com a do outro”.
Comolli, J. C. Voir et Pouvoir.

muitchareia

outras palavras:
“Igualdade dissensual: democracia e biopolítica no documentário contemporâneo”, em
http://www.revistacinetica.com.br/cep/cezar_migliorin.htm

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ana da carrancas

artesã
Ouricuri, 1923
Petrolina, 2008

Eu gosto das carrancas porque elas são…. Elas simbolizam muita coisa, elas podem fazer muitos milagares….
As carrancas de Ana têm os olhos furados porque ela pediu… quando ela fez uma promessa pra São Francisco pra eu parar de pedir esmola, e eu parei aí ela me pediu: “Zé, se tu não se importar eu quero te pedir uma coisa”. Eu disse: “o que você quiser, meu amor, pede!”. Ela falou: “eu quero te pedir permissão pra eu fazer as carrancas….e furar os olhos”. “Só isso, meu amor?” “Meu amor”, eu eu falei pra ela, “por amor eu faço tudo!”. E ela fez. As carrancas com os olhos furados por minha causa.
(…)
Quando a gente se encontrava era aquela felicidade. Ainda hoje ela tá aí doentinha… tá com 82 anos, vai fazer 83 agora.
A vida inteira ela foi assim comigo, Dona Ana das Carrancas.
A única coisa que me falta, e eu juro por Deus que eu ainda consigo, é uma aliança. Eu casei com aliança emprestada.

José Vicente, artesão, viúvo de Ana

entrevista doc longa muitchareia, mini-DV, 71′, 2006
disponível em
http://www.vimeo.com/nonanuvem

carranca

outras palavras:
http://novochico.wordpress.com/2007/09/09/a-arte-do-barro/

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TucumArte

blog
tucumArte

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